segunda-feira, 18 de junho de 2012

Sensitive Kind - Blues de J.J. Cale

Amigos do blog,
 
Confiram, abaixo, minha mais recente produção musical:  "Sensitive Kind", cover do mestre J.J. Cale, em uma versão semi-acústica, com marcada influência mediterrânea.

Gravei e mixei todos os instrumentos, inclusive os vocais, em meu home studio.

Espero que gostem...

Abraços!

Juliano P.



sábado, 10 de março de 2012



Top 20 - Os Maiores Guitarristas do Brasil de Todos os Tempos / Brazil's Greatest Guitar Players of All Time


É isso aí, se a Rolling Stone ainda não se preocupou em fazer uma lista dessa, resolvi me antecipar e fazê-la eu mesmo. 



Eis a lista (ordem decrescente):



20 - Roger Moreira (Ultraje a Rigor)

19 - Fernando Magalhães (Barão Vermelho)

18 - Roberto Bittencourt (Angra)

17 - Wander Taffo (Made in Brazil, Secos e Molhados, Rádio Taxi)

16 - Tomati (Sexteto Onze e Meia)

15 - Lulu Santos

14 - Kiko Loureiro (Angra)

13 - Edu Ardanuy (Dr. Sin)

12 - Mozart Melo

11 - Paulinho Guitarra (Tim Maia, Ed Motta)

10 - Sérgio Dias (Os Mutantes)

09 - Jorge Ben Jor

08 - Edgard Scandurra (Ira!)

07 - Roberto Frejat (Barão Vermelho)

06 - Herbert Vianna (Paralamas do Sucesso)

05 - Andreas Kisser (Sepultura)

04 - Robertinho de Recife

03 - Armandinho

02 - Toninho Horta (Clube da Esquina)

01 - Pepeu Gomes

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012


Pop-Rock Brasileiro e os Rip-Offs. Plágio ou Inspiração?

Já virou clichê comentar o caso em que Jorge Benjor ajuizou ação contra Rod Stewart por plágio e venceu. Trata-se da famosa “Taj Mahal”, cujo refrão -aquele “Te-te-te-re-tê”- foi copiado nota-a-nota por Rod na linha melódica do refrão da sua não menos célebre “Do Ya Think I’m Sexy”, de 1978, verdadeiro standard da rádio Antena 1 e similares em todo o Brasil.

Em inglês, usa-se para designar essa manobra musical a pejorativa expressão rip off, que em bom português seria o equivalente a currar. Um evidente rip-off e pouco comentado é aquele feito por David Bowie em “Ziggy Stardust”, no início do refrão, naquela parte onde David canta “so where were the spiders while the fly tried to break our balls”. A sequência de acordes é praticamente a mesma de “Stairway To Heaven” do Led Zeppelin, quando Robert Plant berra “And as we wind on down the road / Our shadows taller than our soul (…)”, no climax da música, antes do final. Como tanto uma música quanto a outra são dois dos maiores clássicos do rock de todos os tempos, dá pra perceber bem o tanto que os rip-offs são mais comuns do que se imagina.

Nos anos oitenta, época áurea do pop-rock nacional, algumas bandas brasileiras se destacaram com músicas inteiramente originais e outras se consagraram sem tanta originalidade. E havia, ainda, os covers declarados, como “Astronauta de Mármore” do Nenhum de Nós, que é uma competente versão de “Starman”, também de Bowie e do mesmo álbum que o clássico citado no parágrafo anterior: “The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars”. Nessa linha, por seu turno, temos Kiko Zambianchi, que fez uma versão escatológica de "Hey Jude" dos Beatles, que empolgou a cena brega daquela época e que hoje poderia ser considerada cult (do jeito que a música vem sendo mal analisada ultimamente... vide post anterior). Pois bem, mas e os rip-offs não declarados? E quando a possibilidade de ser mesmo plágio fica bem na cara? Ora, pesquisando em foros de música dos mais diversos não encontrei absolutamente nada a respeito dos exemplos que citarei em seguida. O motivo é simples: as semelhanças entre o original e a cópia na maioria das vezes estão ali, mas os produtores mudam arranjos, sem alterar a sequência de acordes,  aceleram o tempo da música ou, simplesmente, transformam a música, por exemplo, que é ska num punk-rock paulera e ninguém, aliás quase ninguém, percebe o rip-off.

Há coisa de dez anos, achei numa loja de discos usados uma coletânea em vinil do Red Hot Chili Peppers chamada “What Hits?”. Gosto desse disco porque tem só músicas da época anterior ao popular “Blood Sugar Sex Magic” de 1991 e como eu não sou lá grande fã de Red Hot, a coletânea caiu bem a gosto. Me deparei com a música “Get Up And Jump”, do álbum de estreia de 1984, e não consegui parar de pensar num dos maiores hits do pop nacional dos anos 80: “Kátia Flávia”, de Fausto Fawcett, gravada em 1987. O rip-off da música do Red Hot seria bem naquela parte em que Fausto rapeia “ficou famosa por andar num cavalo branco pelas noites suburbanas”.  A estrutura é quase a mesma do primeiro verso antes do refrão de "Get Up And Jump". Se não é rip-off é no mínimo uma inspiração em excesso. O resultado foi ótimo e Kátia Flávia até hoje é uma das favoritas de todo oitentista brasileiro que se preze (incluído o autor deste blog).

Um outro rip-off que me deixou de cara foi feito de maneira não menos sutil. Louva-se a competência do produtor que o fez. Trata-se do grande clássico do rock nacional “Bichos Escrotos” dos Titãs, daquele bom disco Cabeça Dinossauro de 1986. Esse rip-off me instigou muito porque veio de uma banda inglesa que hoje é uma ilustre desconhecida mas que é, na minha modesta opinião, uma das grandes expressões do new wave: Haircut 100, sublime mistura de Flock of Seagulls com Kid Creole & The Coconuts, praticamente uma versão tropical do Duran Duran! A faixa em questão é “Favourite Shirts (Boy Meets Girl)”, do excelente disco "Pelican West", de 1982. A estrutura ritmica, que se repete ao longo da música inteira, é praticamente idêntica à de “Bichos Escrotos”, com a ressalva de que a música dos Titãs deixou de lado o flavor latino de “Favourite Shirts”. Ambas as músicas são ótimas. Mas o rip-off está escancarado, basta prestar atenção.

Todo mundo sabe que a Jovem Guarda, enquanto movimento musical, foi amplamente marcada pelo lançamento de versões em português de músicas estrangeiras, em geral gravadas originalmente em língua inglesa ou italiana. Claro que nenhum compositor de fora naquela época deixou de ser creditado. Nos anos 90, no entanto, o Barão Vermelho -minha banda brasileira favorita- regravou um antigo samba de Bezerra da Silva, “Malandragem dá um tempo”. A versão, bem samba-rock, ficou ótima, eu mesmo a toquei várias vezes. O problema é o solo de metais no início, no meio e no final da música. É exatamente a mesma sequência de notas do solo de gaita do clássico da banda de funk americana War, seu maior hit: “Low Rider”. O problema não foi o rip-off, já que o arranjo encaixou muito bem na música do Barão, mas o fato de a música incidental não ter sido sequer creditada. Lulu Santos, por exemplo, não deixou de creditar a banda disco The Tramps, quando regravou o sucesso de Tim Maia, "Descobridor dos Sete Mares", ao construir a base de sua versão por cima do clássico "Disco Inferno". O rip-off do Barão, ao contrário dos anteriores, é amplamente comentado na net e não sei mesmo o que foi feito em termos de copyright até o momento.

É isso aí, galera. E quem souber de algum outro rip-off na música pop brasileira que jogue pedras à vontade!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012


Mais do mesmo: A explicação é boa. Mas o que dói é o triunfalismo otimista do autor. Somos mesmo minoria!


13 DE NOVEMBRO DE 2011 - 14H01

O antigo mau gosto musical virou convicção no Brasil

Discos sempre foram para mim fontes de descoberta. Talvez o hábito de ouvi-los tenha ficado fora de moda por causa da internet e da pirataria, mas nada se compara em nitidez sonora a um CD feito com plástico, alumínio e bits sonoros.

Luíz Antômio Giron*

Pois ontem escutei dois discos de duas cantoras representantes de faixas de público aparentemente diversas que me ajudaram a refletir sobre a atual situação da música popular brasileira: O que você quer saber de verdade (EMI), da cult MPB carioca Marisa Monte, e Ao Vivo (Universal), da mineira e sertaneja Paula Fernandes.

Há dez anos, para não ir muito longe, minha experiência sonora seria considerada abstrusa, pois obviamente duas artistas de registros tão diferentes iriam apenas mostrar a multiplicidade da música brasileira – e reafirmariam minhas convicções em relação àquilo que é refinamento e singeleza.

Marisa, representante da alta cultura; Paula, das camadas populares. Mas minha experiência não se deu assim. Antes pelo contrário: o que eu ouvi nos dois discos são cantoras quase idênticas, entoando baladas românticas muito simples, acompanhadas por instrumentos acústicos, repletas de uma versalhada tida antes por piegas, tresmolhados de bons sentimentos e mensagens de amor nada discretas.

Ambas seriam chamadas de bregas no Brasil Velho. Nos anos 60 e 70, a música romântica influenciada pelo bolero, a modinha e a toada caipira era considerada um produto barato, para uso do povão. Nos 80, bandas da vanguarda paulistana e cantores como Eduardo Dussek exploraram a verve paródica, meio que esnobando o brega, mas lucrando com o gênero. Depois da apreensão ingênua e da paródica, as pessoas assumiram o gênero com pungente fé.

Hoje o brega é a convicção de um povo. Ele se consagrou. Marisa e Paula, duas grandes artistas vocais brasileiras, assumem com serenidade o novo bom gosto. Uma prova de que o brega se converteu em cult –e vice-versa.

O cult está brega

O cult está brega. Isso quer dizer que o cidadão brasileiro cool e descolado se vale de todo tipo de referências para compor a sua roupa, seu modo de agir e seu imaginário. Esse novo comportamento reflete a mudança demográfica do país, com a ascensão das classes C e D. Essas camadas se tornaram importantes e terminam por impor seu gosto, seus hábitos e costumes ao restante da sociedade de consumo.

A gente vê isso na novela Fina Estampa, da TV Globo, de Aguinaldo Silva. Ela relata a ascensão social da pobretona Griselda (Lília Cabral), que de quebra-galho se torna empresária. A novela não maquia a luta de classes, e mostra o conflito entre a emergente Griselda e a socialite Maria Teresa (Cristiane Torloni).

Baseado em pesquisas, o autor faz um retrato realista de como a mulher brasileira se tornou chefe de família, está galgando posições – e, no universo da cultura, obriga a turma do narizinho empinado a prestar atenção no que ela gosta, no que ela sente, pensa e consome. Esse “ovo Brasil” é uma realidade insofismável. É preciso considerá-la e respeitá-la. Os novos-ricos e os novos-classe-média vieram para ficar e se mostrar, para horror das marias-teresas da vida.

O brega cinema nacional

Além da novela, o cinema brasileiro tem explorado, de uns cinco aos para cá, o universo da nova classe média: são favelas que enriquecem com o tráfico e o tráfico que domina os “bem-nascidos”(Tropa de Elite 1 e 2, Meu nome não é Johhny), mulheres que lutam para sobreviver sem preconceito (O céu de Suely, Bruna Surfistinha, De pernas para o ar), formas de arte em extinção que insistem em se manter vivas (O palhaço, Suprema Felicidade), personagens que questionam a identidade e os tabus sexuais (Se eu fosse você 1 e 2).

É um novo mundo que se descortina, e talvez não se coadune com aquela ilha da fantasia sonhada pelos estetas, que hoje só sabem admirar o cinema classe-média-bonitinha da Argentina. Infelizmente (eu diria felizmente), o Brasil não é a Argentina. O Brasil se mostra muito mais rico e variado em termos demográficos e, por isso, culturais. Se é cultura “inferior” nos padrões europeus, paciência.

Os gostos, os hábitos, os amores e os ventos mudam, já dizia o poeta seiscentista Luís de Camões. Até a novidade sofre tantas e tamanhas metamorfoses em sua estrutura que chega o dia em que as coisas mais antigas, descartáveis e antes desprezíveis viram artigo de luxo. Experimentamos hoje o choque do velho, em contraposição ao que preconizavam as vanguardas artísticas até os anos 1920.

No terreno da música

No terreno da música cultura de massa, o processo se acelera ainda mais. Não apenas velhos paradigmas voltam à tona – trata-se de uma forma de reciclagem rápida dos produtos culturais – como também os usos e costumes de classes sociais antes antagônicas começam a interagir e a se fundir de forma irreversível, alterando o que se pensa sobre o mundo e como se consome arte, entre outras coisas.

Mas voltemos à música, que sempre foi a antena das tendências por aqui, e, apesar de viver momentos não muito brilhantes, continua a ser uma arena de mudanças. O que tem acontecido na música brasileira é uma quebra de paradigma. Caiu a hegemonia do eixo Rio-São Paulo.

A música axé da Bahia tomou conta do país inteiro, e gerou estrelas como Ivete Sangalo, Claudia Leitte e Carlinhos Brown. O interior invadiu as capitais, e surgiu o forró universitário e, mais recentemente, o sertanejo universitário. O funk se fundiu com o samba e a MPB. E vieram para baixo os sons amazônicos.

Época publicou recentemente uma reportagem intitulada “E o brega virou cult”, de Mariana Shirai, sobre o gênero tecnobrega paraense e sua influência no movimento Avalanche Tropical, que congrega bandas e DJs bregas do país inteiro. Dessa enxurrada fazem parte a cantora Gaby Amarantos, Garotas Suecas e a Banda Uó.

Inútil preconceito

O que as vertentes do pós-bom gosto ensinam? Em primeiro lugar, que é inútil ter preconceitos musicais, porque ela é invasiva mesmo, capaz que é de se apossar de sua alma. Em segundo, que aquilo que é considerado de mau-gosto na verdade ajuda a enriquecer a imaginação. Em terceiro, que nada é fixo no mundo, e nada mais dinâmico e pervasivo que o som. Quarto, torna-se urgente reavaliar nossas próprias crenças artísticas.

Por isso, finalmente o “populacho” e os “caipiras” invadiram os salões. Na nova geopolítica sonora do Brasil, podemos ouvir os ecos do brega na voz de Marisa Monte, e traços de erudição na de Paula Fernandes. Junte as duas e o resultado será parecido com Vanessa da Mata, uma acoplagem do sertanejo e do alto pop dançante. Junte a duas e você ouve a volta ainda não anunciada de Zezé di Camargo & Luciano.

Você vai entender nas entrelinhas o tecnobrega, a axé. Junte-as em uma audição e você comporá o seu rosto. O Brasil joga na nossa cara quem e como somos de fato. Querendo ou não, se fazendo de culto ou nem tanto, você é brega, meu velho.

*Luís Antônio Giron é jornalista e crítico de cultura.

Fonte: revista Época

A nova classe média e o mau gosto na música

De maneira melancólica e um tanto apressada, Nelson Motta conclui seu ótimo livro “Noites Tropicais” ao discorrer sobre a ascensão da música sertaneja junto ao gosto da classe média durante a era Collor, no início dos anos noventa. Híbrido entre documentário e autobiografia, “Noites Tropicais” é um instigante testemunho sobre os bastidores da música brasileira desde o surgimento da Bossa Nova, no final dos anos cinquenta, até a morte de Cazuza, no início dos noventa, que marcaria, na visão de Nelsinho, o fim do chamado “rock brasil”. Iniciou-se, ali, a era da música popular de mau gosto, que se estende até os dias de hoje e que desbancou a hegemonia da MPB e do pop-rock nacional e internacional no “mainstream” radiofônico, televisivo e discográfico brasileiro. Eu, que particularmente nem sou adepto da MPB, considero impossível comparar a qualidade musical de um Jorge Ben ou mesmo de um Gil com um Parangolé ou com um Vítor e Léo.

Assim como a moda, o gosto musical das massas geralmente se constrói a partir de uma imposição dos meios de comunicação, os quais, por sua vez, são regidos pelos padrões de consumo vigentes. É por meio da mídia que a maioria das pessoas passa a gostar deste ou daquele artista; assim se constrói o gosto musical, bom ou mau. A mudança do gosto musical da classe média atendeu basicamente à importante transformação da economia brasileira, que incorporou indivíduos que antes não consumiam simplesmente por serem mais pobres. Os novos padrões de consumo naturalmente atingiram a música como um todo, a partir da incorporação de ritmos e artistas que antes eram preferência apenas dos estratos inferiores. Ora, é nos anos noventa que o sertanejo de duplas, o pagode, o axé, o forró e o funk passam a liderar os rankings de música consumida nacionalmente, diferentemente do que ocorria em décadas anteriores. Eu me lembro bem, quando adolescente, de conhecer meninas que adoravam Guns ´N Roses e Bon Jovi e que, de um ano para outro, passariam a idolatrar Zezé di Camargo e Luciano e Leandro e Leonardo, jogando uma pá de cal em cima das bandas estrangeiras que tanto amavam até pouquíssimo tempo atrás.

Foi na década de noventa que o país paulatinamente assistiu à emergência de uma nova classe média e na década atual, com o êxito dos programas de redistribuição da renda, o fenômeno se acentuou ainda mais. Parte dos estratos classificados como “D” e “E” tem sua renda aumentada e passa a integrar as classes “C” e “B”, representando um novo e maciço mercado consumidor. A estabilização da economia com o Plano Real, o impacto do Bolsa Família e a consequente melhora na distribuição de renda -o que foi ótimo para o país, reconheça-se- produziu progressiva dilatação da classe média, o que, consequentemente, redundou na ampliação do escopo publicitário dos meios de comunicação. Em se tratando de Brasil, podemos resumir à televisão e à consequente venda de horários em intervalos comerciais a anunciantes dos mais diversos. Para atender à nova classe média, os canais de televisão tiveram de adequar sua programação a assuntos de interesse popular. Programas policiais, brigas de auditório e música outrora classificada como “brega” passaram a integrar gradualmente o “mainstream” televisivo, primeiramente em canais com menor audiência e, posteriormente, na própria Rede Globo. A classe média tradicional, que antes apreciava a MPB e o rock, passa a achar legal o Catinguelê e o Grupo Raça Negra, como num efeito-manada. Me lembro bem da dupla Claudinho e Buchecha, quando lançada e imediatamente classificada como MPB. Na Globo, praticamente todos os programas de TV, da Xuxa ao Faustão, passaram a convidar esses artistas, simplesmente porque eles vendem.

E a juventude, sempre refratária a esse tipo de imposição, também se rende ao novo “mainstream”. Hoje, temos o Sertanejo Universitário, que seguindo as palavras do mestre Lobão -com quem tive o prazer de tomar chope até altas horas em 2002- reflete uma atitude de burrice descomunal: gente que tem nível universitário não deveria ouvir isso, mas infelizmente é o que ocorre. Na mesma esteira, jovens da Zona Sul Carioca, berço da Bossa Nova e do Samba-Jazz, sobem o morro não para apreciar Cartola e seus inúmeros discípulos, mas para frequentar bailes-funk, atraídos pela curiosidade natural que tais eventos suscitam. Tudo bem, a batida do funk carioca pode ter lá seu ritmo e seu peso, mas as músicas são cantadas com péssima técnica, redundando em verdadeiros brados de ode ao crime, com letras de conteúdo abjeto e irracional. Não mais se contesta a ordem imposta com a irreverência do rock ou com os jogos de palavras da MPB. Ao contrário, desafia-se  a sociedade, com apologia ao que ela própria rejeita e repugna. Se o crime, hoje, é tão odiado quanto a falta de liberdade durante a ditadura, o funk carioca se comporta como se fosse, mutatis mutandis, um agente de propaganda do regime de 64.

Entre 1992 e 1997, tive a sorte de morar fora do Brasil. Por passar minha adolescência em Buenos Aires, aprofundei, como se argentino fosse, meu apreço pelo rock and roll e pelo blues. Quando vinha ao Brasil, geralmente nas férias de verão, analisava a mudança de gosto não com repugnância arrogante, mas com uma certa curiosidade ingênua e, obviamente, com grande pesar. Músicas que antes eram ouvidas somente no Carnaval passam a ser executadas 365 dias por ano, o que de fato cansa os tímpanos e esgota a paciência. Quando retornei, já na faculdade, custei a voltar a gostar de música brasileira e, até hoje, tenho que selecionar o que vou ouvir com cuidado e parcimônia. É difícil, mas dá para entender bem por que Nelson Motta conclui seu livro de forma tão triste e impaciente.
Apresentação e disclaimer 

Atendendo a pedidos, criei o blog "Música para poucos". Trata-se de um blog simples, despretensioso, voltado para a crítica musical feita por gente que ama a boa música -em toda a sua diversidade-, mas que  não concorda com tudo o que se lança ou se lançou simplesmente porque todos gostam. Ninguém será poupado apenas porque é "unanimidade". Como toda a unanimidade é burra, já dizia Nelson Rodrigues, nomes como os Beatles ou Chico Buarque serão alvos fáceis da minha humilde crítica.

Quero deixar claro, também, que este será um espaço para criticar, não para ofender. Não se ofendem pessoas, apenas se criticam artistas e sua obra, como sempre se criticou tradicionalmente. Não tenho intenção de ofender ninguém, apenas porque emiti opinião que contraria o que a maioria das pessoas aceita. Como é um blog, o espaço para rebater a crítica estará sempre aberto, desde que não se parta para a ofensa gratuita ou para a baixaria. 

Toda sugestão, obviamente, sempre será bem-vinda. 

É isso aí, desejo boas leituras e boas audições a todos!